RESUMO
O objetivo do estudo foi demonstrar o efeito de dois protocolos da estimulação diafragmática elétrica transcutânea (EDET) sobre a força muscular respiratória de mulheres saudáveis, sendo um protocolo segundo Geddes et al. (1988) e outro padronizado pelo equipamento Phrenics. Mulheres saudáveis foram divididas em 3 grupos: Controle (n=7); EDET com Phrenics (n=7) e EDET com Dualpex (n=7), sendo o tratamento realizado 2 vezes por semana, durante 6 semanas (12 sessões). Foram avaliadas a pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxima (PEmáx), antes e após o tratamento. A análise estatística foi realizada pelo teste Shapiro-Wilk e Kruskal Wallis com pós-hoc de Dunn (p<0,05). Os dois grupos experimentais apresentaram aumento na PImáx (Phrenics: 32,9%; Dualpex: 63,2%) e na PEmáx (Phrenics: 44,7%; Dualpex: 60,9%), diferentemente do Controle que não apresentou diferença. Em conclusão, os dois protocolos de EDET promoveram aumento da força muscular inspiratória e expiratória em mulheres saudáveis.
Descritores: estimulação elétrica; músculos respiratórios; diafragma; força muscular; fisioterapia.
ABSTRACT
The objective of this study was to demonstrate the effect of two protocols of transcutaneous electrical diaphragmatic stimulation (TEDS) on the respiratory muscle strength of healthy women, with one protocol according to Geddes et al. (1988) and other protocol standardized by Phrenics equipment. Healthy women were divided in 3 groups: Control (n=7); TEDS with Phrenics (n=7) and TEDS with Dualpex (n=7). The treatment was made twice a week, during 6 weeks (12 sessions). Respiratory muscle strength was evaluated by maximal inspiratory pressure (MIP) and maximal expiratory pressure (MEP) before and after the treatment. The statistical analysis was made by the Shapiro-Wilk and the Kruskal Wallis test with Dunn’s post-hoc test (p<0.05). Both TEDS protocols promoted increase in MIP (Phrenics: 32.9%; Dualpex: 63.2%) and in MEP (Phrenics: 44.7%; Dualpex: 60.9%), differently of the Control that didn’t show difference. In conclusion, the two TEDS’ protocols promoted increase of inspiratory and expiratory muscle strength in healthy women.
Keywords: electrical stimulation; respiratory muscles; diaphragm; muscle strength; physical therapy specialty.
INTRODUÇÃO
Apesar de ainda haver escassez de estudos relacionados à estimulação diafragmática elétrica transcutânea (EDET), este recurso tem sido utilizado na prática clínica da fisioterapia. Na literatura sobre o tema, os efeitos da EDET estão relacionados com variáveis respiratórias1-5, sendo que os equipamentos ou os parâmetros da corrente elétrica se diferem na prática clínica, com a utilização de diferentes protocolos pelo profissional fisioterapeuta. Contudo, pouco tem sido explorado sobre os protocolos e metodologias de utilização da EDET.
Em alguns estudos, preconizou-se a utilização dos parâmetros da EDET segundo o protocolo do estudo de Geddes et al.2,6-8. Segundo esses estudos, os parâmetros para a aplicação da EDET em humanos são: corrente modulável com tempo de subida de 1 s; tempo de sustentação da contração de 1 s; tempo de relaxamento de 2 s; frequência da corrente entre 25 e 30 Hz; largura de pulso entre 0,1 e 10 ms; eletrodos fixados em pontos paraxifoideos ou intercostais na linha média axilar; intensidade mínima para obter a contração; tempo de estimulação de 20 min. Porém, conforme já exposto, na prática clínica da fisioterapia observam-se diferentes parâmetros, carecendo a comprovação científica da efetividade dos protocolos.
Foi nesse contexto que surgiu um equipamento de EDET, específico para a estimulação elétrica do diafragma, denominado Phrenics, com parâmetros padronizados e limitados, objetivando facilitar sua utilização nos pacientes com disfunção respiratória. Seus parâmetros, apesar de serem similares ao protocolo de Geddes et al.2,7, diferem em relação aos tempos de subida, sustentação e descida. Apesar de haver referência de estudos utilizando o Phrenics no tratamento com a EDET4,5, não foram encontrados na literatura estudos que compararam os diferentes protocolos, em especial esses dois mencionados.
Diante do exposto, o objetivo desse estudo foi demonstrar dois diferentes protocolos de EDET, um segundo Geddes et al.2,6-8 e outro proposto pelo fabricante do Phrenics especificamente sobre a força muscular respiratória de mulheres saudáveis, com a hipótese de que os dois protocolos melhoram a força muscular respiratória, independente dos tempos de subida, sustentação e descida, uma vez que o Phrenics foi desenvolvido especificamente para a contração do músculo diafragma.
METODOLOGIA
Amostra
Este estudo foi controlado e randomizado, sendo triadas 21 mulheres jovens saudáveis, recrutadas na faculdade de Fisioterapia. Foi realizada uma seleção, tomando-se como base os critérios de inclusão e exclusão, cujo número de indivíduos foi baseado na literatura9 e calculado para 7 em cada grupo, com erro tipo I de 5% e poder de 80%.
Essas voluntárias foram divididas aleatoriamente em 3 grupos: EDET com Phrenics (n=7), EDET com Dualpex (n=7) e Grupo Controle (n=7). Foram excluídas mulheres com idade superior a 35 anos e inferior a 20 anos, com obesidade ou sobrepeso, e que apresentassem doenças pulmonares, cardiovasculares, neurológicas e ortopédicas, ou qualquer disfunção física que as impedisse de participar do estudo.
Este trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade (protocolo 073/2009) e as voluntárias assinaram o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme determina a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde.
Avaliação
Inicialmente, foram verificadas a pressão arterial (mmHg), saturação periférica de oxigênio (%), frequência cardíaca (bpm), peso (kg), altura (m) e índice de massa corporal (IMC).
Para a avaliação da força muscular respiratória, tanto a pressão inspiratória máxima (PImáx) quanto a pressão expiratória máxima (PEmáx), foi utilizado um manovacuômetro analógico (Ger-Ar®) com adaptador de bocais, contendo um orifício de aproximadamente 2 mm de diâmetro, com a finalidade de proporcionar um escape de ar e assim prevenir a elevação da pressão gerada na cavidade oral, pelos músculos da parede bucal, evitando com isso a interferência nos resultados10,11. O intervalo operacional do aparelho foi de 0±300 cmH2O.
A PImáx foi mensurada a partir do volume residual, ou seja, ao término de uma inspiração máxima, partindo de uma expiração máxima, enquanto que a PEmáx foi mensurada a partir da capacidade pulmonar total, ou seja, ao término de uma expiração máxima, partindo de uma inspiração máxima12. Todas as voluntárias realizaram no mínimo três manobras reprodutíveis, tanto para a PImáx, quanto para a PEmáx, todas sustentadas por dois segundos13, sendo que o maior valor foi computado, desde que este apresentasse 10% ou menos de diferença em relação ao valor imediatamente inferior. Todas as voluntárias permaneceram na posição sentada e fazendo uso de um clipe nasal.
Destaca-se que o avaliador não soube qual protocolo o voluntário recebeu quando realizou a reavaliação.
